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Um dia reparei que já não eras o meu herói e que tu, mãe, já não estavas sempre lá, como quando eu era pequenino. Vocês viviam aí no vosso mundo, entre a novela da noite e o jogo do Benfica e eu ter 3 a inglês ou 4 a matemática era igual ao litro. Mas havia o grupo todo do outro lado, o Zé, a Rita, o Quim...e um dia foi o dia do primeiro charro. Giro. Depois o segundo, qual o problema ? Até ficava mais barato que uma bebedeira. Além disso havia sempre alguém para curtir e repartir, na escola, no café, no jardim....e vocês sabiam lá !? Desde que chegasse a casa a horas. Foi então que conheci o Duarte. Da erva à Coca foi um instante. Então é que ficava na boa, capaz de vencer o mundo, inteligente e tudo como vocês gostariam que eu fosse. Só que aquela merda era cara e os cinco euros por dia não davam para nada. Foi então que vos menti a dizer que precisava de mais dinheiro para a escola, discoteca, tabaco e essas coisa e vocês caíram. Entretanto lembram-se daquele dia em que julgavam que eu estava com os copos porque me fartei de vomitar ? Foi quando experimentei a minha primeira “chinezinha”. É que a heroína bate cá de uma maneira! Não sei explicar. Não havia nada que eu quisesse tanto no mundo. E sem ela já não conseguia viver, por isso comecei a roubar porque não havia outra hipótese. Vocês têm que perceber, eu precisava mesmo.

Agora continuo sem saber explicar. Estou completamente à nora, há bocado o Manuel veio dizer-me que o André morreu de overdose e eu não sei o que fazer.

Não sei se vocês ainda gostam de mim, ou se tu mãe, ainda estás aí. Mas por favor falem comigo, falem comigo....