Nós consumimos álcool/ drogas por variadas razões. Com frequência o fizemos para ultrapassar as limitações da vida. A princípio elas faziam-nos ver um mundo mais bonito do que o real, mas posteriormente tomávamo-las para apagar os nossos sentimentos de culpa, de medo e a solidão que nos afligia. Foi difícil para nós darmos conta do momento em que ultrapassamos a linha para além da qual os consumos começaram a ser mais uma causa da situação do que a busca da solução. Os produtos alteradores da mente já não nos satisfaziam nenhuma das nossas necessidades.
No entanto pondo o nosso programa em prática poderemos aprender a satisfazer de novo as nossas necessidades de forma construtiva. Teremos então que dar os passos necessários de forma honesta, sem recorrer a subterfúgios e descobrir limpos e sóbrios, aquelas coisas da vida que tentamos descobrir através do álcool/ drogas.
Hoje daremos os passos que se impõem, arriscando, partilhando e confiando.
Nem sempre é fácil mantermos um estado de limpeza e sobriedade. É necessário empenharmos-nos completamente e poderemos ter que sofrer muito física ou psiquicamente. Durante o tempo da nossa adiccão activa poderá ter acontecido que tenhamos atravessado períodos difíceis e não conseguimos aprender nada de útil. Mas agora em recuperação,temos a possibilidade de aprender a partir das nossas experiências pois estamos a encarar a vida de frente pela primeira vez. Teremos então que interiorizar que se tomarmos uma primeira droga ou bebida as nossas oportunidades de crescimento morrerão. Teremos então que nos questionar se estamos a aproveitar para nos aperfeiçoar com as novas experiências que a vida nos proporciona. Vamos então confiar neste novo modo de vida, neste programa, nas pessoas que comungam os mesmos ideais que nós, para que as nossas forças se robusteçam. O caminho a seguir passa por arriscar, partilhar, confiar e permitir-nos sair da nossa zona de conforto.
Desde muito cedo, quando temos contacto com o programa dos 12 passos, aprendemos que pedir emprestado e emprestar é um pecado capital para as nossas aspirações de entrar em recuperação. Nem nós podemos permitir aos outros que nos ponham num mau espaço nem nós podemos fazê- lo aos outros. Sabermos governar nos com o que temos faz parte de um rigor e de um equilíbrio que nos ajuda a crescer em sobriedade, sem nos colocarmos numa situação embaraçosa. Não sermos assertivos com os outros, colocando-nos muitas vezes em espaços desconfortáveis, é uma grande falha que permitimos porque ou queremos ser agradadores ou temos uma auto estima baixa ao ponto de termos medo do inventário que os outros possam fazer de nós ou queremos dar uma imagem dourada e irrealista da nossa pessoa mesmo que isto nos traga uma factura que nem sempre conseguimos estar à altura dela. Dizer não pode ser libertador até porque se assim não for quando confrontados com situações que ponham a nossa recuperação em perigo nós não estamos habituados a a ter uma resposta eficaz e inequívoca de forma a conservarmos a qualidade de vida que tanto nos custou a conquistar. Pode portanto a assertividade trazer-nos inúmeros benefícios na nossa rotina, dar-nos o controlo da nossa vida, o respeito e o saber estabelecer limites.
Há quem afirme que quanto mais renhido for o conflito mais significativo será o triunfo. Alguns de nós acham que podem alcançar o triunfo sem necessidade de passar por situações de tensão. Isso significa que não estão preparadas para experimentar o triunfo, pois de outro modo não pensariam assim. É um facto que que damos pouco valor ao que compramos por baixo preço. Mas os preços que pagamos pelas nossas vidas fazem delas os tesouros mais queridos que possuímos. A nossa liberdade tem muito valor porque nos custou bem caro, quase a vida. E também é habitual dizer-se que o céu, seja lá o que isso for, sabe muito bem o preço das suas mercadoria. Teremos que dar o justo valor àquilo que conseguimos alcançar, mesmo que frequentemente nos pareça difícil de concretizar. Assim temos a obrigação de expressar a nossa gratidão pela sobriedade, permanecendo em recuperação e tentarmos ser um modelo para muitos adictos no activo que ainda não encontraram o rumo.
Temos a necessidade de não esquecer as nossas orientações de base para prevenir futuros problemas de álcool, drogas ou outros e para não perdermos de vista quem somos e de onde viemos. Não somos perfeitos e muito menos seremos sumidades no campo espiritual.
Somos adictos que encontramos uma solução para os problemas da vida. Trata-se de uma solução prática para um estilo de vida nada pratico. E, se esquecermos as orientações de base, deixarmos de por em prática o nosso programa, deixarmos de frequentar as reuniões de auto ajuda, ficaremos expostos a todo o tipo de sublimações idealistas e de ilusões irreais. Estas situações poderão impedir-nos o caminho para a recuperação. Temos então de simplificar todo o processo na procura da limpeza e sobriedade e estar gratos por sermos merecedores de uma nova oportunidade onde o ponto de partida é termos conhecimento do sítio para onde não queremos ir.
Um adicto com medo quanto baste e grato nunca recai.